Zeca Baleiro - PetShopMundoCão - 2002 - Full Album
01 - Minha Tribo Sou Eu - 00:01
02 - Eu Despedi O Meu Patrão - 04:11
03 - O Hacker - 07:50
04 - Telegrama - 11:51
05 - Mundo Dos Negócios - 16:20
06 - Guru Da Galera - 20:35
07 - Drumembêis - 24:07
08 - Um Filho E Um Cachorro - 28:09
09 - Fiz Esta Canção - 32:30
10 - As Meninas Dos Jardins - 35:07
11 - Mundo Cão - 39:25
12 - Filho De Véia - 40:44
13 - A Serpente - 44:07
14 - Meu Nome É Nelson Rodrigues - 48:33
\"Com canções capazes de agradar a todos (ou propositadamente desagradar alguns), Pet Shop Mundo Cão vem para confirmar a inacreditável capacidade desse maranhense de conseguir misturar vários tipos de linguagens e influências sem perder o controle das diversas \"vozes\" que ecoam no disco. Uma obra que se utiliza de uma heterogeneidade de linguagens, ritmos, códigos, vertentes, influências, que é constante na produção literomusical de Zeca Baleiro, abre margem para que se perca as estribeiras e a obra acabe por ser uma polifonia desgovernada. Mas, com bastante maestria, o autor mostra como \"orquestrar\" harmonicamente as vozes. E o resultado é justamente essa deliciosa salada recheada com os mais apetitosos sabores sonoros.
O resultado é um disco plural, tanto em ritmos quanto abordagem temática, mas é predominantemente feito com música eletrônica, tratando de críticas a determinados comportamentos sociais, principalmente a alienação sofrida pela sociedade por meio da mídia. E ele começa logo definindo seu posicionamento transcorrente, fluido, com \"Minha tribo sou eu\", que tem a habilidade de perpassar por todas as vertentes ao mesmo tempo em que não se filia a nenhuma, o que é típico dessa sua geração pop. Justificado: não quer ficar preso a um único estilo, se ver obrigado a obedecer a ditames de modismos. Destaque para \"Telegrama\", que mostra solidão urbana atrelada ao sentimentalismo no relacionamento de um casal, numa batida envolvente, daquelas que nos fazem dançar sem nem mesmo nos darmos conta.
Apesar de mostrar-se completamente antenado com os recursos musicais da pós-modernidade ao usar a música eletrônica, como não poderia faltar, Zeca não deixar de mostrar seu vínculo com suas raízes, trazendo um \"bumba\" maranhense, contemplando o misticismo, presente na cultura nordestina. Além disso, traz uma canção com o estilo do boi amazonense, falando do mistério que envolve o acordar da serpente para nunca mais a cidade dormir. Esse jeito de condensar o atual com o tradicional numa canção revela o \"cheiro\" de modernidade, de que é possível agregar valores tidos como antagônicos; e nesse canção, tal efeito é conseguido com tamanha destreza que talvez nem nos demos conta de que esses valores são concorrentes entre si, que se opõem a fim de obterem seu espaço dentro da sociedade. Momento que não causa frisson é justamente na última canção, em que ele diz, dentre outras falas, que é do tempo em que \"até os automóveis davam bom dia\", mostrando, assim, a nossa indiferença em relação ao próximo, típica da atualidade por conta da nossa vida atribulada, corrida; devido a isso, tornamo-nos insensíveis.
Apreciar uma obra como Pet Shop Mundo Cão requer uma certa maneira de assim o fazer. Primeiro, deve-se entender que é uma obra artística, portanto, não é necessário que tenha um sentido em si. Se assim fosse, é como se exigíssemos sentido num quadro de pintura abstrata; não que o disco o seja, mas, se vem de Zeca Baleiro, esperemos qualquer coisa assim estranha e, por isso, surpreendente. Temos que apreciar o disco sem exigir nada dele; temos que nos deixar sermos levados pelas canções. Não precisamos ficar todo o tempo tentando buscar explicações por que ele coloca vozes femininas entoando \"O meu pai morreu, que será de mim? Manda busca outro correndo lá no Imbraim\". Ainda bem que ele é \"fio da véia\", porque a força que ela dá a ele talvez seja a responsável por trabalhos assim tão prazerosos. Aproveitemos a ocasião e mandemos embora agora o nosso patrão, criemos um vírus, vivamos no mundo de seus negócios, sejamos a galera e ele, o nosso guru. Não são só as meninas dos Jardins que gostam de rap; nós também gostamos, e principalmente quando se tem um happy end chamado Pet Shop Mundo Cão.\"
