Primeiro álbum lançado pela cantora, instrumentista e pesquisadora goiana, em 1962.
Ely Camargo iniciou sua carreira como cantora de rádio em Goiânia e Brasília, optando por interpretar um repertório de estilos vindos do vasto Brasil rural. Sua voz, dicção e inflexão, marcadamente portadoras da tradição das cantoras de rádio, trazem impregnadas em si as marcas de um pretérito musical já distante de nós, ouvintes atuais, anterior à gênese da chamada MPB, que se deu a partir da confluência da Bossa Nova, Tropicália e Jovem Guarda, na transição dos anos sessenta para os setenta do século passado.
Assim como seu modo de cantar é representante de uma tradição que se descontinuou, o país cantado em suas canções constitui um território perdido no espaço e no tempo, um imenso Brasil rural, caipira, sertanejo e seu povo mestiço, negro e indígena, com seus espaços ainda não tocados pelos dispositivos tecnológicos do desenvolvimento, pela massificação dos meios de comunicação e pelo modelo monocultor exportador, que expulsa milhões de camponeses e indígenas de suas terras e devasta o ambiente em nome do lucro de alguns poucos. Neste território perdido, o homem e a mulher do campo podiam semear além de seus alimentos, também a sua arte. A música dos violeiros e cantadores era fruto da inspiração na vida simples da labuta, música feita pelo povo e para o povo. Quanta diferença em relação ao que hoje se chama de sertanejo! Indústria de produção em larga escala de músicas pop de baixíssima qualidade, idênticas entre si temática e ritmicamente, que funcionam como ethos musical e discursivo do agrobusiness.
Na época de seu lançamento, o trabalho de Ely já possuía a intenção de operar o resgate e a conservação deste repertório tradicional. Passado mais de meio século desde o surgimento do álbum, as modas de viola, sambas rurais e todas nele presentes são verdadeiros documentos históricos de valor imaterial incomensurável.
Faixas:
1. Canção do Araguaya [Joaquim Édison Camargo/Francisca Filemon Mascarenhas] 00:00
2. Jurupanã [Osvaldo de Souza] 03:20
3. Lá na Venda, Lá na Vendinha [Lourdes Maia] 05:26
4. Sabiá [Hekel Tavares/Juraci Camargo] 08:22
5. Ó Minha Caninha Verde [Folclore paulista, recolhida por Norma Elia] 10:32
6. Marido Pealado [Teddy Vieira/Almayara] 11:34
7. Vovó Sabina [J. Cavalcanti] 14:00
8. Gavião Penerô [Osvaldo de Souza] 16:46
9. Violeiro do Luar [Paraguassu] 19:08
10. Santo Antônio, Tenha Dó [Maria do Rosário Veiga Torres] 21:23
11. História Triste de Uma Praieira (Jangadeiro) [Stefana de Macedo/Adelmar Tavares] 24:07
12. Protesto [Estilização da Solfa do \"Redondo Sinhá\", do folclore nordestino, recolhida por Osvaldo de Souza] 28:10
13. Meia Canha [Tradicional, adaptação de Ernani Braga] 29:58
14. Prêta Zulmira [João de Deus] 32:36
15. Pingo d'Água [Osvaldo de Souza] 35:56
16. A Choça do Monte [Catullo da Paixão Cearense] 38:18
17. Luar do Sertão [Catullo da Paixão Cearense] 40:24
Nota: A presença de cliques, chiados e outras imperfeições no áudio se deve ao fato de o arquivo digital ter sido obtido a partir de disco de vinil.
